“Meus desenhos são feitos para serem vistos e não falados. A obra de arte tem de falar por si mesma.”
Mira Schendel fez parte de uma geração de artistas que desembarcou no Brasil fugindo da Segunda Guerra Mundial e que, definitivamente, tornou-se uma agente ativa e definidora da arte contemporânea brasileira.

Mira nasceu em Zurique, no ano de 1919 e chegou ao Brasil aos 30 anos. Fixando residência primeiro em Porto Alegre e posteriormente em São Paulo, sua primeira grande participação no cenário das artes se deu em 1951, na primeira Bienal Internacional de São Paulo, permitindo contato com experiências internacionais e a inserção na cena nacional.
Seus primeiros trabalhos são marcados por uma certa rigidez e alheamento, traços que estigmatizaram um certo hermetismo que perpassa toda a sua obra. Essa foi notadamente marcada por um vazio, pouco uso de contraste e um certo tom melancólico. Haroldo de Campos, amigo próximo de Mira, disse, em entrevista a Sônia Salzstein, que Mira “sentia aquilo que o Julio Cortázar chamava de ‘dificuldade de estar de todo’: ela se sentia meio exilada”.

A economia de elementos visuais faz com que sejam utilizados com precisão e impacto marcantes. Seu caráter hermético se tornou ainda mais efetiva pela rejeição da artista em contextualizar suas obras de caráter abstrato. A crença fundamental na obra como a forma única de compreensão da arte torna-se marcante em um meio onde, por vezes, o discurso do artista parece ser cada vez mais complementar a obra em si. Tratando-se de uma produção tão extensa e tão experimental, percebeu-se um incômodo latente do público com essa postura da artista.

A própria artista se defende, ao afirmar que sua obra é autossuficiente e atribuindo qualquer tipo de significado a sua concretude, distanciando-se da conceituação comumente impostas à obras abstratas:
“uma matéria porosa que suga para baixo esse sujeito em pleno estado de imanência, o chão que não o deixa desprender-se em direção ao céu dos conceitos”.

As letras, que se pulverizam sobre a tela, parecem apontar para essa incapacidade da linguagem verbal dar conta de compreender as intenções artísticas e todo um universo sentimental que a habita e não pode ser posto em uma encadeamento padrão, mas somente em ebulição abstrata. A potência visual e plástica da letra é ressignificada através de seu isolamento e repetição.
Como Mira uma vez disse:
“Dou a maior importância que seja assim manual, que seja artesanal, que seja vivenciada, que saia assim da barriga. Deve brotar da barriga e não simplesmente da mão”

Saindo da barriga para a tela, Mira nos ensina que o exercício fundamental para compreender sua arte é o nosso próprio olhar sobre o que há para se ver.
“Talvez a opinião dos outros possa me ajudar a compreender melhor o que faço, pois até hoje, a arte para mim, é um grande mistério”.
A exposição Sinais/Signals apresenta uma extensa seleção de trabalhos de Mira Schendel e ocorre entre Janeiro e Abril de 2018 no MAM – São Paulo.
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